🎼 Mídia

─ Alô? ─ Digo, atendendo o meu celular.

─ Oi, puta. Sou eu, Elisa. ─ diz a minha amiga, do outro lado.

As duas damos uma gargalhada bem alta.

─ Oi, amiga. O que você está fazendo? ─ Sorrio, a escutando.

─ Estou me matriculando na Escola de Arte. ─ Ela responde.

─ Ué, na Escola de Arte? ─ Pergunto, curiosa. ─ Mas o que é que você pega lá nesse lugar?

─ Eu vou fazer um Ciclo Formativo de Moda antes de ir para a faculdade. Dizem que é altamente recomendável. E você? O que vai fazer da vida, sua louca? Já se decidiu?

─ Não tenho a mínima ideia. ─ Respondo, erguendo uma sobrancelha, e rascando a minha mesa com a ponta da unha.

─ Por que você não vem comigo dar uma olhada? Talvez haja algo por lá que você ache interessante.

─ Hm… ─ murmuro, cínica.

Uma garota deprimida vai ter interesse pelo quê?

─ Vem! Por favor! ─ ela exclama, com o seu jeito adoravelmente convincente. ─ Escuta… ─ Elisa pergunta, me analisando. ─ Você e sua mãe estão bem?

─ Sim… ─ Digo, fraco. ─ Nós já acabamos de mudar para uma casa com dois quartos. Eles brigam todos os dias, mas não é nenhuma novidade. ─ Lhe conto.

─ Ai, ai. Entendi. Meu deus do céu. Não tem jeito mesmo, né? ─ Elisa pergunta, nervosa.

─ Sem chance. ─ Respondo, rindo de leve.

─ Vem comigo, amiga. ─ Ela diz, colocando um tom de voz apenado e suplicante, mimoso. ─ E dá uma olhada na oferta acadêmica.

─ Vou sim, não tenho nada para fazer mesmo. ─ Respondo, descrente.

─ Dizem que nessa Escola de Arte todos os alunos são muito autênticos, excêntricos, gente boa e muito loucos.

─ Ah, é? ─ Pergunto, animada, como se o meu corpo houvesse recobrado a vida.

─ Sim, sim.

Elisa ri, maliciosamente.

E neste dia, ainda nas férias de verão, eu fui com a minha melhor amiga nesta Escola de Arte. O lugar tem umas instalações mais do que aceitáveis, se comparado com as escolas públicas brasileiras. Não chega a ser um Palácio Real, mas é bem bonito e cumpre sua função.

Há várias salas de aulas, há murais onde os alunos expõe seus trabalhos, há armários, e há uma oferta formativa razoavelmente extensa. Dá para estudar Escultura, Música, Fotografia, Desenho Gráfico, Ilustração, Confecção de Vestuário e Arquitetura Efêmera.

A Elisa, que, apesar de suas origens, é nascida aqui, me explicou que estamos num país onde, culturalmente, os jovens saem de casa no primeiro ano da Faculdade para morar sozinhos, tradicionalmente indo para uma cidade diferente.

Os jovens de classe alta têm suas despesas arcadas por seus pais. Como não? Já os de classe média possuem outros métodos. Muitos decidem fazer um Ciclo Formativo de Grau Superior primeiro. Desta forma é possível ser Técnico em algo, ter uma profissão, para poder trabalhar e estudar ao mesmo tempo ao começar a Faculdade; pagando as próprias contas e despesas.

Que bom que ela me explicou, já que não tem ninguém em casa com juízo para me orientar.

Acabei me matriculando em Desenho Gráfico, na Escola de Arte de Barcelona.

Não que este seja o sonho da minha vida.

Eu estou bem perdida, nem sei o que quero dela.

Já sou velha demais para entrar no Conservatório da grande e sumptuosa capital de Catalunha.

Eu estou indo para socializar mesmo.

Preciso de pessoas boas ao meu redor, pessoas além da minha melhor amiga. Mais pessoas. Mais família.

Pessoas assim, desse estilo que a Elisa disse que havia.

Mal posso esperar.

***

Daniel Ortega

Estamos na primeira quinzena de agosto de 2014. Eu e Elisa acabamos de pegar as duas chaves dos armários que nos entregaram na secretaria e agora estamos caçando-os pelos corredores, por curiosidade. O meu armário é o número 12, e o dela o 13.

Em cada andar da Escola de Arte há uma fileira deles pregados na parede. Sem dizer nada, vou descendo as escadas com minha amiga.

─ Estou muito ansiosa para começar! – Diz Elisa, dando uma leve chacoalhada de empolgue com seu corpo, me fazendo sorrir.

Gosto de pessoas animadas como ela.

─ Eu também. – Respondo, cúmplice.

Não que eu esteja empolgadíssima, mas bom, talvez estudar aqui me traga coisas boas.

─ O que você vai fazer agora? – Ela pergunta, sorrindo.

─ Vou voltar para casa, ver como as coisas estão e, sei lá, talvez eu saia mais tarde.

─ Mmm… – Ela murmura. – Se você quiser sair para tomar uma cerveja me avisa. Hoje eu estou com muita vontade de me divertir. – Elisa para de andar, sorri e prega um selinho na minha boca. Depois disso ele dá um risinho divertido.

Fico vermelha. Para não perder a sua amizade, seguro o seu rosto e retribuo, de olhos fechados. Minha amiga é bissexual. E tem um comportamento e umas tendências bem dominantes, digamos. Eu me considero hetero, mas costumo beijá-la quando ela me beija. Inclusive quando saímos juntas, muitas vezes acabamos dando beijos de língua bem quentes e profundos em discotecas.

Certa vez, um cara jogou um copo inteiro de Cuba Libre na nossa cabeça. Foi aí que eu vi que poderia ser problemático beijá-la em público. Na mesma noite, alguns homens tiraram fotos de nós duas enquanto nos enrolávamos.

─ Para, Elisa. Vão pensar que namoramos. – Digo, sussurrando, olhando para alguns alunos que estão pelos corredores procurando os armários deles, ou só conversando. Alguns nos observaram momentaneamente, mas logo se giraram para cuidar de suas próprias vidas.

Elisa ri alto.

─ Ué. Mas você é minha mulher. Não é não? – pergunta ela, brincando, e avançando contra mim com um grande sorriso. Acabo rindo muito corada.

─ Não. Eu gosto de pau. – A provoco, avançando alguns passos, retribuindo-lhe um sorriso ladeado e sexy.

─ Quando você vai me chupar? Em? – Ela ri, vermelha, gostando da minha cara.

─ Não sei se estou preparada para isso. – Rio, tampando a boca.

─ Sua sem graça. – Ela gargalha baixinho, pegando meu braço. É outro costume que a Elisa tem. Na rua ela anda agarrando meu braço, como se fossemos esposas. Detalhe, ela tem namorado. Mas os dois tem suas próprias condições dentro do relacionamento e o que a Elisa faz comigo, e com outras amigas suas, parece estar incluído no acordo. Não que eu saiba dos detalhes mais sórdidos; mas suponho.

Entre sorrisos, paramos mudas para observar os armários. E começamos a analisar os desenhos.

─ Que legal, não é? Eles deixam os alunos pintarem os armários. – Remarco. Elisa assente. Cada um tem um desenho único e criativo. Dá para ver a personalidade de cada aluno que o decorou. Alguns são bem fofos, outros estão pintados com comics, outros tem caricaturas, adesivos, assinaturas de Graffiti, uns quantos são mais góticos, outro mais hippies. Bem interessantes.

De repente, sinto um vento passando por mim de um jeito violento, me deixando com medo. Quando giro o meu pescoço, vejo um garoto andando de um jeito agressivo, com passos largos. E por tanto engraçados, na minha opinião. Ele está usando uma bermuda jeans aberta nos joelhos e um moletom grosso com capuz, de cor cinza. Tem as pernas bem peludas com fios pretos, isso me arranca um risinho. Ele é bem alto e proporcionado. Assim de costas, só consigo ver o seu boné preto girado para trás. Está escrito “Harlem” nele. Harlem… Mais um europeu que pensa que é preto? Meu sorrisinho se expande um pouco mais.

Vejo como ele se ladeia ao se encontrar com um garoto ruivo tão alto como ele. Os dois ficam de perfil, e estão rindo juntos, fazendo alguma brincadeira típica de meninos. O moreno gesticula muito, se agacha, parece ser bem feliz. Me dá uma energia boa, como se esse jeitão fosse apenas uma capa. E este cara ruivo também é lindo. Muito diferente e excêntrico, tem os olhos cinzentos, com uma espécie de verniz brilhante sobre eles. Está vestido todo de preto, com roupas muito ajustadas, taxas por todos os lados, e uma jaqueta de couro. Seus cabelos são longos, um pouco abaixo do ombro, repicados e tingidos com um vermelho fantasia intenso.

Vejo como, de repente, ele se ladeia na minha direção e na da Elisa. Não para olhar nós duas, mas como se apenas estivesse checando o ambiente num gesto automático. Giro a cara para o armário imediatamente.

─ É esse o meu. – Digo para Elisa.

─ Olha! É o Casandro! – Ela exclama, sorrindo.

─ Casandro? – Murmuro, rígida.

─ Sim, vem. Ele é amigo do meu cunhado. Assim socializamos um pouco com alguém conhecido. – Minha amiga diz sorrindo, e me puxando. Me giro, com vergonha, e vamos caminhando até o tal do Casandro.

Ele acaba de dar duas palmadas amigáveis nas costas desse cara moreno, num gesto de despedida, e ele saiu caminhando com o seu ar despreocupado outra vez, enfiando as mãos nos bolsos da bermuda.

─ Oi, cara! – Elisa exclama com um grande sorriso. Os dois se abraçam e eu me afasto. Casandro esfrega as mãos pelas costas da Eli, sorrindo.

─ Elisa… Quanto tempo… O que é que você está fazendo aqui? – Ele lhe pergunta.

Nossa, o Casandro tem uma voz rasgada, um pouco sombria, rouca e grave. É um tom excitante, ao menos para mim.

─ Eu me matriculei para estudar moda. – Minha amiga responde sorrindo.

─ Que bom. Hmmm… Já pode me soltar? – ele ladeia um sorriso sarcástico.

Que escroto.

Elisa o solta e dá um tapa no ombro dele.

─ Ei. Seu chato da porra. Você segue rabugento como sempre. – Ela zanga.

Casandro ri fraco, se divertindo.

─ Bom, desculpe-me. Mas eu já estou indo embora. Estou com pouco tempo disponível hoje. Estudos, ensaios, trabalho hoje à noite. Enfim… Muito movimento.

─ Ah, então tá. – Responde Elisa, orgulhosa.

O cara diz que vai trabalhar, mas para ela foda-se. Tudo é um ataque pessoal.

Casandro me olha uns segundos e depois abre um sorriso labial ladeado. Vai deslizando as pupilas por meus olhos, por meu nariz, por minha boca.

─ Eu sou Malvina, amiga da Elisa. – Corto o incômodo silêncio e sorrio fraco, tentando ser simpática.

─ Eu te perguntei alguma coisa? – Casandro rebate.

Mesmo assim fico surpreendida e desconsertada com a falta de educação.

O ruivo começa a rir com malícia. Ah! É só uma brincadeira.

Os Europeus são ácidos fazendo amigos. Isso me choca.

─ Hm! Idiota! Já não converso mais contigo então, mané. – acho que exagerei. Que nada. Ele já está rindo comigo, esse escroto. Casandro pisca um olho para mim de um jeito discreto, dando risinhos, se despede com a palma da mão e vai embora.

─ Ah, não liga para ele. Ele é assim mesmo, prepotente e desagradável. – Elisa me consola.

E daí se ele é desagradável? Ele é gostoso, rockeiro e sabe ler partituras. Quero conhecê-lo melhor.

De forma superficial, claro. Assim não tenho que despejar meus problemas pessoais em mais uma vítima.

─ Nem foi nada, amiga. Um idiota a mais. Eu já vou para casa.

─ Mas já?!

─ Já. – Rio. – Te amo. – Beijo sua testa, e me preparo para me afastar.

Mas aí a Elisa me puxa para um abraço muito apertado, me esmagando.

─ Eu também, sua bobona. Você vai ver como vamos nos divertir aqui. – Ela sussurra, como se fosse uma promessa.

─ Eu sei. – Respondo, maliciosamente.

— ♥♥♥ —

A briga da Eduarda e do Matias em plena madrugada parece ruído branco. Para que o espetáculo não pare, estou carregando com a responsabilidade deles novamente, cuidando do meu irmão. Eu tenho um refúgio mental para momentos de emergência. Uma bolha na que eu me enfio e não escuto nem entendo nada externo. A imaginação. Minha mente dissocia para que eu não reacione também ao perigo, e possa proteger nós dois, de algum modo. O meu irmão já tem um ano e já sabe descer da cama sozinho. Seus risinhos são fofos, mas seu choro é enlouquecedor. Agora ele está calmo no entanto, no meu colo. Sua pele é suave e linda, seus olhos são inocentes. Estou tampando suas orelhas com as palmas das mãos, beijando sua nuca suavemente, cada vez que escuto um grito lá de fora, um insulto, um cristal caindo no chão. Meu coração está acelerado.

─ Te amo, meu bebê. – sussurro para ele baixinho. A porta se abre bruscamente. Disfarço, abaixando as mãos dos seus ouvidos. Pois minha mãe tem ciúme de que eu me aproxime demais do meu irmão. Eu sou só um objeto que serve para cuidar dele, mas não lhe interessa que desenvolvamos laços fortes, ou que eu a substitua em sua vida.

─ Você ouviu isso, Malvina? – minha mãe grita, me repreendendo. Ela quer que eu entre na briga e me enterre na cova junto com ela. Afinal, estar com este homem sempre foi a sua escolha. Ela preferiu à ele antes do que me proteger. E pouco a pouco me aprofundarei mais nesta história.

─ O quê? – Respondo, submissa.

Meu padrasto aparece por trás, só de cueca.

Nojento.

─ Bobagens. – ele tira importância.

─ Ele acaba de me bater! Olha aqui! – Minha mãe me mostra um hematoma roxo enorme.

Fico calada. Tenho medo do Matias.

─ Você contou para ela o que você fez? – Ele lhe pergunta, com uma postura superior.

Eduarda está nervosa, lagrimejando.

─ Você não ouviu?! – ela grita comigo, girando a cabeça.

Sigo calada. Sinto meus ombros pesados, os músculos se contraem.

─ Enfim. – ele suspira zombeteiro. – Vou descer para tomar uma breja.

─ Não. – respondo minha mãe. Ela me olha feio. Claro que eu ouvi. Eu só não quero compartilhar esta dor com ela, pois a minha mãe me xinga de tudo que é nome: gorda, lerda, otária, feia. Ela quer que eu me importe. Mas ela nunca se importa com os meus sentimentos.

─ Você é uma lerda inútil mesmo. Sonsa para caralho. Não se dá conta de nada. Este homem pode me rebentar que você não faz nada. – outra vez, minha mãe quer que eu seja a mãe dela, e não o contrário. Reprimo a dor dos seus insultos.

─ O quê fazemos? Chamamos a polícia? – pergunto, desorientada.

─ Que polícia o quê? Sua retardada! Você quer que a gente morra? Vai, sai daqui. Larga o meu filho. – ela arranca o Marcelo do meu colo e começa a mimá-lo na minha frente. Isto me causa um sentimento que não sei explicar. Uma certa inveja, pois eu queria sentir este amor. Ou o que for isto.

Saio com um semblante triste, mas pelo menos agora fui deixada em paz. Coloco fones de ouvido, começo a escutar muitas canções sensuais. Pois essa sensualidade traz certo conforto ao meu coração deprimido. Ainda não tenho televisão no quarto, então começo a olhar os grupos do whatsapp. A Elisa mandou um monte contando para todo mundo que ela conseguiu vaga na Escola de Arte. Faço um baseado, com a intenção de sair da realidade, de me sentir feliz. Talvez eu me masturbe depois, pelo mesmo motivo. Abro a janela e subo as persianas dem fazer barulho.

Ainda há luzes acesas na vizinhança. Jogo meus braços para fora e começo a fumar primeiro um cigarro, enquanto olho dentro das casas. Fico comparando a minha vida com a dos demais. Olha só. Há uma família vendo televisão, um casal se beijando na cozinha, uma mãe balançando um berço… Tudo normal e cotidiano. Que carência… Sigo rolando os olhos, espiando os vizinhos, até que vejo um homem loiro com o cabelo curto dobrando algumas roupas, apenas de cueca branca. Ele é bonito, e além disso organizado. Não como esses caóticos daqui de casa.

Começo a me debruçar na janela, e a olhar atentamente, estou até arregalando os olhos. De repente vejo como ele para, e olha na minha direção. Seu rosto fica de frente para a janela. Ele se aproxima. Noto que seu membro está duro na cueca. Solto uns risinhos nervosos e junto meus seios com os braços, só para provocá-lo, fumando. Ele abre um sorriso ladeado e acena pra mim. Nesse momento sinto uma adrenalina muito gostosa, e como não estamos nos enxergando direito aceno de volta e mordo meu lábio inferior carnudo. Ele aponta para baixo com o indicador duas vezes. É como se ele estivesse perguntando:

“Vamos descer?”

Ai, não sei não.

Ele começa a se vestir, volta a me olhar e gesticula de novo.

“Vamos descer?”

Já vou.

Jogo a bituca do meu cigarro pela janela.

Me ladeio e deixo ele ver como eu me visto também, com um sorriso tímido, malicioso e divertido. Desço pelo elevador e coloco o capuz do meu moletom preto. Está chovendo e acabo de arrumar o cabelo. Algumas amigas me dizem que eu fico linda com o cabelo ondulado, mas eu não acredito muito. Afinal, cresci ouvindo que é feio.

Eu moro a algumas ruas da avenida principal. Em qualquer cidade europeia todos os edifícios do centro são caros e antigos. Por fora eles costumam ser góticos, renascentistas ou barrocos: históricos. Por dentro os proprietários reformam as casas com as últimas tendências de interiorismo. É, eu vivo num desses edifícios caros e luxuosos. É irônico porque muitas vezes meu padrasto não compra comida e passamos fome. Além disso, a casa não está reformada e tem vários defeitos. Mas quando ele desce no térreo todo mundo pensa que ele caga dinheiro e é isso o que importa. Encontro dentro do meu moletom um cigarro de maconha já preparado. Prefiro não fumar em casa, agora que desci já aproveito. E ainda que esse vizinho pareça “um cara de bem”, não dou a mínima se ele tiver uma má impressão de mim. Costumo me divertir quando causo repulsão em gente certinha, em gente perfeitinha, que tem tudo que eu não tenho.

─ Malvina, você dá pena. – Diz a voz interior da minha cabeça.

─ O fato de eu precisar de medicina alternativa para curar a minha depressão é algo que eu perdoaria se eu fosse Deus. – a respondo.

─ As pessoas sentem nojo de você por usar drogas e por ser antipática. Você é só uma carente, uma penosa e uma inútil. Esta é a sua forma de chamar a atenção dos outros? Sendo uma vadia drogada? Por que você não entra para dentro, joga isso fora e vai estudar?

─ Foda-se. – acendo o cigarro e cruzo a rua, fumando. Já no primeiro trago sinto a brisa interior relaxante se misturando com o ar poluído e pesado da capital.

Encontro o loiro usando uns óculos escuros, um boné cinza girado para trás e um casaco marrom cujo capuz está levantado sobre sua cabeça, escondendo a aba do boné. Ele é alto, magro e proporcionado. Diria: bem atrativo. Ele está encostado num térreo escuro, o mais feio da rua. Assim que ele me vê abre um sorriso ladeado no canto da boca e move as mãos dentro dos bolsos do seu casaco por nervosismo. Insegurança? As pessoas dizem que eu sou bem bonita.

─ Oi, vizinho. – Cumprimento, ficando na sua frente, e levantando o meu queixo para olhá-lo no rosto. O loiro fica calado alguns segundos, sabe-se lá quem é ele, me observando por dentro dos óculos escuros. – Vai ficar mudo? – Rio baixo, quebrando o gelo.

─ Uau. – Ele sussurra, dando um leve risinho. – Eu realmente não esperava que você descesse. – vejo como ele abaixa os olhos, observando o cigarro, mas não diz nada.

─ Pois é. – Respondo, com um sorriso cínico.

─ Hm… – Ele murmura.

O cara se aproxima de mim e segura a minha cintura com as duas mãos.

É mesmo. Foi para isso que descemos.

“E se ele for um depredador?” a pergunta vem com um tom amedrontado pela minha mente. Olho suas mãos lentamente, dizendo-lhe de um jeito não verbal que ele está sendo inapropriado. Depois subo o meu olhar para o rosto dele e abro um sorriso sensual e ladeado. Eu quero… mas não o conheço. Sinto como ele puxa o meu corpo, meus seios se colam em seu peito. O ar da respiração dele vem contra minha boca, e fecho os olhos. Começamos um beijo de língua lento. Este foi o meu primeiro contato com ele. De olhos fechados, e mente apagada. Cada vez que eu transo com um desconhecido sinto a adrenalina de estar arriscando a minha vida. E quando não acontece nada, quando a foda sai bem, sinto de uma forma muito estranha que há algo além que cuida de mim, e me reforço nesta sensação de que sou especial para Deus, ou para a força do universo, chame como queira. Sinto que alguém está olhando por mim.

Seguro o seu pescoço com as duas mãos e aprofundo o beijo. Nossas línguas começam a se esfregar uma na outra. Após dois minutos assim, conhecendo o interior do paladar um do outro, o beijo está ficando intenso e molhado. Acabo soltando um gemido baixo. Sinto o corpo dele esquentando, e o roce da calça jeans dele na minha.

─ Você é atrevida. – Ele sussurra contra minha boca, segurando um lado do meu rosto e morde o seu lábio inferior de desejo enquanto me olha. Depois desliza os dedos de um jeito carinhoso por minha pele.

─ O que você quer dizer? – Pergunto, me fazendo de inocente.

─ Você não acha perigoso o que acaba de fazer? Descer para se encontrar com um estranho? – Ele ladeia um sorriso malicioso e satisfeito. Dou um leve risinho irônico.

─ O mesmo te digo… – Respondo, baixinho. Eu gosto de me fazer de perigosa, mas no fundo sou um passarinho assustado com tendências suicidas. Neste momento, ele parece haver ficado ainda mais surpreendido. Não é normal uma garota que se diz perigosa.

─ Então você não é nada certinha. Hm?

Às vezes sim. Às vezes sou bem certinha.

─ Sou sim. Eu sempre tomo precauções. – Respondo, sarcástica, dando outro sentido desviado para sua pergunta.

Ele ri gostoso e baixinho, entendendo a que me refiro a pílulas anticonceptivas e camisinhas. E fica corado porque não deixo de surpreendê-lo, pelo visto.

─ Eu também. – alega ele, sem dar nenhuma prova disto, no entanto. Ele me empurrou para a parede contrária do térreo, segurou a minha bunda com as duas mãos, uma em cada nádega, e me apertou contra o corpo dele. Dessa vez o nosso beijo foi fogoso, cheio de tesão. Eu parei de conter os meus gemidos. Ele beija bem. Sua língua explora a minha com vontade. Eu solto gemidos finos, de olhos fechados. Dentro deles, minhas escleras estão se revirando. Depois de mais alguns minutos, ele para e começa a beijar o canto da minha boca, com alguns selinhos um pouco desesperados e molhados.

─ Uff… A sua boca é super macia. Eu nunca beijei ninguém com os lábios assim, tão carnudos, tão gostosos. – Ele confessa baixo, com um timbre embargado de tesão, bem perto de mim. ─ São naturais? – ele ladeia um sorriso maldoso.

Amigo, sou muito nova e pobre para por ácido hialurónico na boca. Não é a primeira vez que perguntam isto pra mim, e é bem irritante. Ainda que eu seja branca, a minha avó é negra. E tenho traços de várias raças, como a maioria dos brasileiros.

─ Claro que sim. – Sussurro, revirando os olhos. ─ Eu sou toda natural. – Faço uma expressão de desdém.

─ Você não é daqui. Seu sotaque é estranho. – Ele responde. Outra pergunta com a qual lido sempre que conheço alguém novo. Apenas assinto.

─ Sou de outro planeta. – digo, sem paciência. ─ Posso tirar seus óculos de sol, senhor mistério? – peço, com senso de humor, desviando a atenção sobre mim. Chego a tocá-los, mas ele freia minha mão.

─ Prefiro assim. – Ele responde, elevando a minha suspeita. Por que ele não quer ser visto? É um fugitivo?

─ Você fuma? Não te perguntei. – Lhe digo, o olhando e lhe apontando o cigarro enrolado no papel de seda.

─ Não muito. Pode ficar para você. – Ele responde. Tem certa ternura no tom de voz dele.

Me mostro um pouco desentendida, e inclusive ofendida. Ele parece haver notado isto, e tenta consertar nas próximas falas. ─ Digamos… Que eu tenho isso de sobra. E talvez até melhor do que a que você está fumando. – Ele move o nariz algumas vezes, cheirando a fumaça. ─ Sim, definitivamente.

─ Ahh… Entendi. – Zombo, com um sorriso. ─ Você é do tipo requintado, que só fuma erva cinco estrelas.

O garoto apenas dá um risinho.

─ Sim… – Ele abre um sorriso malicioso, seu lábio fino se curva para um lado. – Você quer vir comigo a um parque que há aqui perto? É bem discreto. – Ele sussurra “discreto” e entendo na hora ao que se refere.

─ Qual? – Pergunto curiosa.

─ Para o Auditório. – Ele responde.

─ Vamos.

E então começamos a caminhar juntos, como dois anjinhos, um do lado do outro.

─ Eu já fui por lá. Quando eu tinha quinze anos eu e meus amigos matávamos aula nele ás vezes. É o parque onde está o monastério, não é mesmo?

─ Sim, sim. – Ele ri levemente. ─ Há quanto tempo você mora aqui? – pergunta o loiro, curioso.

─ Desde os quatorze, quinze anos. – Respondo, sorrindo. ─ E você? Você nasceu nessa cidade?

─ Sim. Eu nasci aqui, cresci aqui. – Ele está com as duas mãos para trás, nas suas costas, como um vovô. Chega a ser engraçado. ─ Mas espero não morrer aqui.

Olhamo-nos e acabamos rindo com cumplicidade. Ele não gosta daqui. E eu também não. Não que a culpa seja da cidade, mas eu tenho meus motivos. Talvez ele tenha os dele também.

Chegamos a um parque escuro, enorme. É necessário subir umas escadas para chegar à zona verde. Atrás há uma igreja e uns edifícios baixos e antigos, cuja função é a de claustro para as freiras. À esquerda há um parque infantil, com um balanço e alguns outros brinquedos. À direita há alguns bancos de praça e no meio há um passeio grande, entre árvores.

Ele já chegou se sentando num dos bancos, de pernas abertas. O parque está vazio. De noite sempre está vazio. Eu já transei aqui com o meu falecido. Olho para ele, que está apoiando as mãos na metade das suas coxas, ladeando a cabeça de um jeito sensual enquanto me olha, sem capuz.

─ Qual o seu nome? E… Se não quiser me falar, ao menos me diga um apelido? – Sorrio, sarcástica. Vejo como ele segue se resistindo a falar de si mesmo. Me aproximo dele aos poucos e me sento numa coxa sua. Imediatamente ele segura minha cintura com uma mão. ─ Um apelido, sabe? Ou você prefere que eu gema o nome de outro cara? – Sussurro perto do seu ouvido, de um jeito arrastado, rouco e fino. Vejo como ele lambe seu lábio inferior.

─ Dangy. – Ele responde, com firmeza, com um timbre sensual e muito sussurrado, principalmente ao pronunciar seu apelido de rua. Levemente envergonhado, levemente safado.

─ Dangy, hm? – Rio com suavidade. ─ E então… Você tem… Camisinhas? – murmuro. Nossos lábios se pregam de novo como imãs. Ele não me responde, apenas me beija com força, de novo, segurando o meu rosto de um lado, e o apertando. Confesso, estou ficando excitada. Estou sentindo o pau dele subindo por dentro da calça enquanto nos beijamos. Deixo meus seios encostarem no peito dele lateralmente, gemo baixo, isso parece surtir efeito nele. Sinto como ele desabotoa minha calça e coloca uma mão por dentro do tecido jeans, minhas costas se arrastam aos poucos, até ficarem encostadas no peito dele. Sua outra mão sobe por dentro do meu moletom, alcançando um dos meus seios. Ele não me respondeu sobre as camisinhas.

─ Você tem proteção? – sussurro, afobada, enquanto sua língua entra na minha boca mais depressa. Seu dedo começa a tocar meu clítoris, em círculos, por dentro da calcinha. Ele se aproveita da minha umidade natural para massageá-lo, franzo as sobrancelhas de prazer. Sinto ele apertando meu peito. Essa massagem durou por mais algum tempo, até que a pele dos dois começou a ferver no meio de tantos toques. Ele colocava os dedos para dentro de mim como podia. Eles faziam certo barulho por dentro da minha calcinha, no meu interior molhado. Seus dedos longos me atingiam profundamente, eu estava gostando. Não parávamos de nos beijar e de nos esfregar. Sinto como ele vai se ajeitando. Sinto o seu membro grosso e quente tocar contra a minha calcinha, sem nenhum plástico.

─ Para! – grito. ─ Não é para entrar sem camisinha! – digo, me levantando do seu colo.

─ Shh… – ele susurra, e me puxa de volta de um jeito tão violento que me assusto. Com os olhos penetrantes. Começo a ficar fria. ─ Eu sou saudável, ok? – ele ladeia um sorriso maligno.

─ Eu vou embora. Me larga senão eu vou gritar! – sigo respondendo com violência e desespero. Ele ri sarcástico, baixinho.

─ Ok, ok… – ele fala baixo, me olhando. ─ Não grita. Tem uma no bolso da minha calça, de sorte. – responde “Dangy”, com um tom calmo e controlado.

Eu deslizo, num momento, minha mão até o interior do bolso da calça dele e localizo a camisinha. Minha respiração está acelerada, o coração a mil, estou ansiosa. Eu mesma a abro. Não sei se estou me sentindo pressionada a transar com ele, mas com certeza já tenho medo. Ele volta a devorar meu pescoço com beijos profundos, apaixonados e suspiros na minha orelha.

Me levanto e desço minha calça jeans até as batatas das pernas. Dou uma cuspida que cai desde os meus lábios até seu pau, e o masturbo algumas vezes, enquanto o olho com um sorriso ladeado, dominando a ira deste cara com minha sexualidade. Coloco a camisinha tremendo, segurando a ponta e a deslizando no seu membro. Logo me sento de joelhos no banco. Então desço mais a minha calça sento no pau deste desconhecido. Começo a sentar para cima e pra baixo, totalmente segura de que pelo menos estou protegida e ele não vai tentar nenhuma bobagem. Ele agarra o meu quadril e me ajuda a meter com força. Está escuro, e mal nos vemos para dizer a verdade. Sinto perigo, adrenalina, medo e prazer. Fragilidade. E saudades do Marcos.

─ Ah… Ai… Assim! – começo a gemer mais alto quando ele vai me ajudando, revirando meus olhos. Ele lambe meus seios nessa escuridão, mordendo o biquinho de um deles, levando-o para o fundo da sua boca enquanto me fode com força, segurando o meu quadril, me fazendo galopar nele. Eu estou muito molhada, e é estranho que a excitação e o medo se fusionem em um só. Eu não me entendo. Me dá medo de que apareça alguém no parque. É perigoso. Molhada porque o pau dele é muito gostoso e grosso e me deixa trêmula. Confusa.

─ Dan… – Sussurro.

─ Sim? – ele murmura, aproximando a cabeça do meu pescoço, enquanto ainda me ajuda. Eu ia lhe dizer que queria parar e ir embora, mas ele começou a meter tão forte, de um jeito tão violento, que acabei esquecendo da razão. Eu apenas fechei os olhos e me deixei levar. Enquanto o meu clítoris se esfregava na pélvis dele freneticamente com suas investidas, eu acabei gozando. Ele, em pouco tempo também. Ficamos um tempo abraçados enquanto nossas respirações se normalizavam. Eu queria conversar com ele, perguntar quem ele era… Mas eu só sentia que ninguém desse mundo ia me entender de todos modos. Que não vale a pena tentar conectar. Então apenas fiquei em silêncio, esperando o meu corpo voltar ao normal.

─ Você gostou? – pergunto.

─ Claro… – ele assente, ainda ofegando. ─ E você?

Talvez eu tivesse gostado mais podendo ver seus olhos.

─ Sim. – Respondo, apenas. Não foi uma das minhas melhores transas. Não que fosse culpa dele, eu mesma me coloco em situações assim estranhas. ─ Mas já vou embora… – digo, me levantando do seu colo e me apoiando no seu ombro.

─ Quer continuar lá em casa? Hm? E fodemos mais e mais forte.  – ele diz, totalmente pervertido. 

─ Não posso. – sussurro. ─ Tenho que dormir em casa.

─ Mm… – ele murmura. ─ Te acompanho?

Levo as mãos até seu rosto para tirar seus óculos, então ele segura meu pulso.

─ Você insiste em me ver. – Diz o garoto. – Faz o seguinte… Fuma este baseado inteiro, e eu deixo você levantar meus óculos. – Ele dá um risinho e o tira de dentro da sua calça outro cigarro no papel de seda.

─ Por que você não quer que eu te veja? Isso é muito, muito estranho. E suspeito! – exclamo, franzindo as sobrancelhas. Enquanto estou falando ele coloca uma bolsinha de plástico cheia de maconha no bolso traseiro da minha calça jeans, dá um tapa na minha bunda, uma apertada, e ri baixinho de novo. Começo a entender. Ele só pode ser o cara qe passa drogas aqui no bairro.

Acendo o baseado e começo a fumá-lo freneticamente na frente dele, enquanto ele me observa. Tudo para poder vê-lo, como ele havia me prometido. Quando acabo o cigarro, estou tonta, lerda e quase caindo no chão. Tudo gira ao meu redor, as árvores estão se embaçando, parece que o banco onde ele está sentado dança. Levanto seus óculos, mesmo assim, e então vejo um par de olhos marrons muito intensos. Minha pressão abaixa e ele me segura.

─ Você está bem? – ele pergunta.

─ Não muito. – Respondo.

─ Quer algo? Água? Algo de comer? – sugere, preocupadíssimo.

Não parece tão perigoso. Apesar de que foi ele mesmo quem mandou eu me auto-danar para poder vê-lo. Tudo é muito ambiguo.

─ Não, bobo. Quando eu fumo maconha me dá vontade de rir e de dançar. É só isso. Estou contendo essa vontade porque você parece ser muito sério, aí minha pressão abaixou. Começo a gargalhar e a fechar os olhos, de vergonha. Dangy acaba rindo também.

─ Ah, é? Ok, então. Podemos dançar aqui nesse parque. – Ele responde. Entre risos e, diga-se de passagem, chapada, eu acendi o meu celular e coloquei alguma canção de hip-hop. Escolhi esse ritmo para agradá-lo. Nós fizemos uma festinha particular por algum tempo. Comentávamos a letra, dançávamos, ficávamos de palhaçada. Ele era bem mecânico e parecia não estar desfrutando muito de verdade. Chegou um momento em que ele apenas me observava de um jeito gelado, que não sei definir ou explicar. Mas eu não me importava. Olhei pro céu. Estava bem estrelado, então comecei a sorrir. E a sentir uma brisa fria passando por meu ombro.

─ Sabe, Dangy… Desculpa ser assim, louca… foi legal te conhecer hoje. – Digo, viajando na maionese.

─ Tudo bem. – Ele responde, e me olha. Sinto como me abraça por trás e me dá um beijo no rosto. Mais alguns segundos passam em silêncio.

─ Quem sabe nós não nos vemos outra vez? – ele sussurra.

─ Quem sabe. – Respondo.

Durante o resto do verão, eu tive mais alguns encontros anônimos com esse vizinho. Paramos porque ele insistia muito em transar sem camisinha e isto eu não queria. Além dele, eu também transei com vários caras diferentes neste mês de agosto, sem compromisso. Eu não dava a mínima. Era legal… Acho. Apesar de que, cada vez que eles sumiam, a minha auto-estima se deteriorava mais, e eu me sentia um lixo, indigna do amor de ninguém. No entanto, eu me sentia viciada em sexo. Pois isto e as drogas eram a única coisa que me ajudavam a sobreviver.  Em casa eu não podia fazer nada. Tomava banho escondida, comia escondida, cantava ou escrevia só quando ninguém estava por perto. E então eu ia para a rua para que um estranho qualquer elevasse o meu ego temporalmente.

* * *

Hoje é o primeiro dia de aula, setembro de 2014.

Advinha só: não sei o que vestir!

Esse foi basicamente o meu tormento de manhã por uma hora inteira. A outra hora foi para me arrumar. Hoje tenho que dar uma ótima impressão, não é mesmo? Coloquei a tablet na mochila. Sim, eu tenho uma tablet! A minha mãe me dá as tablets e os celulares, pois ela sempre compra para ela o novo modelo do ano, então felizmente posso herdar os velhos. No entanto, ela ainda não comprou o meu uniforme. Hoje não temos que usá-lo, isto é bom, pois assim me dá tempo de conseguir um. Visto uma saia de tecido grosso, com bordados étnicos, e um “crop-top” do mesmo estilo; tudo herdado da minha mãe também. Arrumei o meu cabelo bem liso, e passei muita maquiagem, mesmo de manhã. Quando eu estava a ponto de chegar, recebi uma ligação da Elisa.

─ Alô? – respondo.

“Você já está chegando?” ela me pergunta, animadíssima.

─ Estou a uma rua. – Digo, olhando para todos os lados. Vejo como algumas pessoas estão subindo para a mesma direção que eu. Garotas com o cabelo excessivamente repicado, meias rasgadas, piercings, e caras do mesmo estilo.

“Quando chegar para no bar que tem na frente da EA.” Diz ela, enquanto alguém dá uma gargalhada do seu lado.

─ Como é o nome?

“Cafetus.” Responde Elisa.

─ Estou indo. – Digo.

Ai. Começo a alisar a minha roupa, tirando os pelos de cachorro que a july deixou na minha meia preta. Em pouco tempo avisto esse bar-cafeteria que tem na frente do colégio. Vejo Elisa sorrindo do lado de fora, lindíssima, acenando para mim. Do lado dela há um garoto enorme, de quase 1.90cm, com os cabelos azuis, e os olhos azuis. Ele tem a pele muito branca, uns dentes imaculados. Está usando um paletó azul escuro e uma camisa, todo formal. Me aproximo deles, exibindo um sorriso também. Dou dois beijos na Elisa e puxo uma cadeira para mim. Antes de me sentar, escuto a voz da morena.

─ Malvi, este é o André. Eu conheci ele agora a pouco, e ele é tipo uma encilopédia da moda. Conhece todas as marcas famosas, hitos históricos, se veste super bem, e o melhor de tudo é que ele vai estudar moda junto comigo. Na minha sala! – ela exclama, empolgadíssima com um sorriso enorme. Acabo ficando contagiada. Para quem tem depressão como eu, uma pessoa como a Elisa é algo mágico de se ter por perto. Pois ainda que tudo isso possa ser superficial, de certo modo ela me distrai das coisas que me afundam no poço.

─ Oi! – diz o garoto, acenando para mim, com um grande sorriso. Ele também está rindo do empolgue da Elisa, sutilmente.

─ Oi! – exclamo de volta, e me aproximo para cumprimentá-lo. Nos damos dois beijos. Ele tem cheiro de Johnson’s Baby.

Me sento na cadeira ainda sorrindo.

─ Sou Malvina, Lynn… – e antes que eu pudesse dar uma definição para mim mesma, sinto Elisa me abraçando e me agarrando lateralmente contra ela com força.

─…Minha melhor amiga. – Ela completa, sorrindo. Eu me deixo levar como uma onda no mar. E sigo sorrindo para André, enquanto sinto o amor dela.

─ “Nya”. – mio ternamente como resposta para sua frase.

Além de sofrida ainda por cima sou Otaku. Puta que pariu comigo.

─ Hahaha! – Ri André. ─ Que fofas! – ele espreme os lábios numa careta, daquelas que você faz quando está se aguentando para não espremer um poodle fofinho para caralho, lindo de morrer. Logo não consegue se conter e faz uma brincadeira, fingindo que captura o meu nariz entre seu indicador e o dedo do meio, e logo fazendo o mesmo com a Elisa. ─ Nha! – diz André, exagerando a articulação da letra “a” de um jeito muito terno.

Tem algo dentro de mim que diz que ele é um bom garoto. Sinto algo fraternal por ele, bem forte. E é por esse sentimento de encontro que acabo de me apaixonar. O jeito que ele brincou conosco agora a pouco foi com tanta sinceridade nos olhos. Ele realmente gostou da nossa amizade. Não é algo fingido, feito só para tentar ser simpático. Acabo tocando o pulso dele enquanto sorrio, pregada com Elisa. O agito uma vez.

─ Como você se chama mesmo? – pergunto, suplicante. É que eu sempre esqueço nomes.

─ AN. – ele faz uma pausa. ─ DRÉ! – exclama, logo cai na gargalhada.

─ Que charmoso! Amei! – rio também, com Elisa, enquanto a olho nos olhos buscando cumplicidade para minha opinião.

─ Ih, amiga… Não empolga não… Não se empolgue não! – A morena começa a me zombar, fazendo vários gestos com as mãos e com os lábios.

─ Que foi?! – rio desentendida. Vejo Elisa gesticulando com a boca para que André lesse enquanto aponta para mim. Seus lábios diziam: “essa aqui é uma puta”. Olha, que desgraçada. Agilmente, ela começa a deixar a voz sair da garganta de novo e me diz:

─ O André é gay. Bichona. Bichona louca! – Ela vai enfatizando os insultos cada vez mais, mais e mais exageradamente. Eu e André não conseguimos levar a mal, no entanto. É cômico demais.

─ Ahhh… – parece que ele vai morrer de rir. ─ Aiah. – Ele suspira e sua cara fica séria de repente. – Vai, chega. – Ele exclama, fazendo um gesto de “chega de palhaçada” para nós duas com uma das mãos, enquanto apoia o cotovelo na mesa e nos fita com autoridade. – Já entendi que vocês são duas bad bitches que precisam de um amigo gay. – Ele se penteia de um lado, sensualmente, olhando para cima com desprezo e fazendo alguns bicos. ─ E eu vou ajudar vocês. Hm? – André se gira e pisca um olho. ─ Eu vou deixar vocês entrarem no meu bando. – Ele enfatiza “vocês” e ergue o mindinho com o cotovelo no centro da mesa. ─ Amigas? – ele olha para mim e para Elisa de um jeito desafiante.

─ Claro! – exclamamos nós duas, como siamesas.

Os três rimos juntos.

─ Ui! – André lambe o seu mindinho, e toca um dos seus mamilos enquanto ri. Meu Deus! Fico gargalhando. Ele já é assim no primeiro dia em que nos conhecemos. Quem dirá… Quando os três levarmos um ano… sendo amigos. Acabo abrindo um sorriso bobo, viajando.

─ Ih, olha… – diz André. – Ela ficou perdida. – Ele ri sacana enquanto fala com Elisa. ─ Deve estar pensando no pau do bofinho. – Segue André, fazendo uma voz sussurrada de ASMR de propósito. Ia começar a gargalhar, mas decidi seguir me fazendo de perdida, apenas para que o show continuasse. ─ Hm, pau. Pau de bofinho jovem. Hm, delícia. Yes, yes. Yes?! Yes! – ele bate na mesa. Acabamos gargalhando muito alto de novo. Uma sombra vem e nos tira da nuvem de gargalhadas na que estávamos metidos.

─ Shh! Vocês vão incomodar os outros clientes. – a garçonete repreende, tocando um dos ombros de André.

─ Shh… – começo a imita-la, quando ela vai embora. – Vocês vão incomodar os outros clientes. – Sussurro, sensualmente, de um jeito dominante enquanto seguro a mesa com as duas mãos, com os braços meio abertos. Meus amigos acabam rindo de novo, e começam a sussurrar mais coisas absurdas, zoando a represália. Acabamos nos levantando quando o sinal tocou indicando que já deveríamos era estar lá dentro da Escola de Arte. Onde as pessoas fazem arte, e umas artes. Fomos caminhando, gargalhando, como se já fossemos amigos de uma vida inteira, para qualquer um que observasse a cena do lado de fora. Que alegria.

─ O meu armário vai ser o mais fashion, sem dúvidas. – André solta de repente, olhando para frente, como se estivesse pensando alto.

─ Você vai redecorá-lo? – pergunto, com um sorriso ladeado.

─ Obviamente, querida. – Ele revira os olhos. – Obviamente. As coisas do André devem ser sublimes, originais.

Elisa tampa a boca e ri abafado. Chegamos no meio do corredor. André está agarrando Elisa pelo ombro e os dois estão indo para a esquerda, sem notar que eu parei de andar.

─ Ei, vocês nem se despedem? – repreendo, um pouco alto, segurando minha mochila nas costas.

─ Hm? – os dois se giram juntos, como se houvessem feito um passo de bailão. Foi superexagerado.

─ Eu tenho a minha primeira aula de Desenho Gráfico. Não vou com vocês. – Digo, para André. Logo coloco a mão na frente do rosto da Elisa e aceno. ─ Hello-ow?! – zombo, a chamando para a terra. Ela não tem desculpas para pensar que eu faço moda com ela.

─ Eu sei, eu sei! Boa sorte. – Minha amiga agarra as minhas bochechas, uma em cada mão e abre um grande sorriso. Logo me rouba um beijo na ponta do nariz.

─ Desenho Gráfico?! – exclama André. – Rá! – ele burla, e ainda não entendo o porquê. – Você vai estudar com o desastrado do meu irmão. – Ele contrai o canto de um dos lados dos seus lábios, e faz uma expressão similar a de quando você prova um limão.

Sei que é pura zoeira, no entanto.

─ Ui, você tem um irmão? – ergo uma sobrancelha, sorrindo, e sendo maliciosa de um jeito engraçado e descarado.

─ Tenho sim. – diz André, erguendo suas costas e passando uma palma da mão na outra. ─ E sim, é exatamente o que você mais desejava. Ele não é gay. Nada gay. – André ri, bem-humorado. Que menino bobo. ─ E ainda por cima… – ele põe a mão na cintura. ─ Somos gêmeos. – André sorri, sedutor. ─ Claro que eu sou mais engraçado. E mais simpático. Mas bom… Foi isso. Somos tão lindos que Deus dobrou a receita. Armando e André para as fêmeas e para os machos!

Foi entre muitos risos que nós três nos separamos. E, graças a Elisa e André, foi assim, com um sorriso de ponta a ponta, e de olhos brilhando, que eu entrei para dentro da minha primeira classe do dia, e do ano. Umas migalhinhas de amor já me deixam assim bobinha. Sou super sensível, no fundo. Me sentei numa carteira vazia, no meio da sala. Muito corada.

“Não conheço ninguém…”

“Todos devem estar me olh…”

─ Mas essa merda não acende! Todos os anos a mesma merda! Todos os anos esses computadores de merda! Isso é uma vergonha! – Diz a professora, nervosíssima, me acordando das minhas paranoias. Ela grita, quase se descabela. O mais engraçado de tudo, é que tem uns caras bobos bem na minha frente que gargalham bem alto a medida em que ela vai ficando mais e mais louca de raiva. Minha visão começa a desembaçar. Começo a prestar atenção neles, realmente, agora. Tem um garoto assim da minha altura, na minha frente, de cabelo curto e castanho, bem forte. Do lado dele há outro, moreno. Meu Deus. Que filho da puta gostoso. De onde que isso saiu? Quando ele ri aparecem uns dentes de dar inveja na Angelina Jolie. Tem duas pedras azuis vivíssimas nisso que ele chama de olhos. Ele tem umas sobrancelhas pretas, selvagens, arqueadas, que lhe dão um ar maligno. Parece que ele gosta de tudo o que for malfeito.

Sinto como começo a tocar um lado do meu cabelo e fico toda amolecida. Mais corada que antes. E quanto mais eu sinto que estou corando, mais vergonha me dá. Agarro a mesa, tentando me acalmar, olho para baixo e passo uma borracha por alguns desenhos feitos a lápis, para disfarçar. Acho que um garoto tão bonito jamais ia querer transar comigo.

─ Alguém sabe acender essa porcaria?! – exclama a professora.

─ Vou eu, professora. – Não sem antes rir gostoso dos apuros dela, outra vez; diz o moreno, se levantando. Vejo como ele se ajoelha no chão em modo cavalheiro e começa a olhar os fios do computador. Ele os estica, olha por baixo, verifica se eles estão juntos. Estou vendo esses braços se movendo dentro do leve afrouxamento da sua camiseta preta. Está todo mundo olhando para ele. Abro um sorriso ladeado.

─ A CPU estava apagada. – diz o moreno após apertar o botão, com cara de tédio. Ele se levanta e volta para o seu lugar enquanto todos dizem “Ah, fala sério!” ou coisas do tipo. A professora está envergonhada. Ele ri um pouco.

─ Enfim… – A mulher tenta se recompor, e vai respirando melhor pouco a pouco. ─ Obrigada, Armando. – ela estica sua camisa. ─ Vamos começar fazendo uma introdução dessa matéria. Aos poucos todos vão ficando em silêncio, prestando muita atenção, concentrados. Ouço um último sussurro:

─ Eu vou te fazer uma introdução. – ele diz ao amigo, que imediatamente abafa uma risada.

Olha que malicioso. A frase saiu desse palhaço que está aí sentado na minha frente. Ele nem está falando com ninguém. Só está zoando.

Decido me concentrar também.

Até o final.

Faltando pouco para acabar ela começou a fazer a chamada. Essa matéria é obrigatória, e as faltas podem causar expulsão, ou obrigar-te a repetir de ano.

Eu fiquei prestando atenção para ouvir o nome dele.

─ Malvina?

─ Presente. – Respondo.

─ Fulano, Ciclano, Beltrano?

─ Presente, presente, presente.

─ Armando? – ela pergunta.

─ Presente. – Responde, Armando, levantando a mão.

Que nome horroroso. Será que este é o irmão do André?

O irmão hétero do André?

Que delícia.

Acabo de sombrear um dos cubos que desenhei para atividade de hoje, que foi apenas traçar formas geométricas o mais reto que pudéssemos, e projetá-las em 3D no papel. Às vezes levantando os olhos e passeando-os por suas costas. Nossa… Eu amo esse biquinho que a ponta do cabelo dele faz na nuca.

A aula acabou.

Todo mundo está começando a recolher.

─ Ei… – o cutuco. Minha voz sai tão baixa, que acabo tendo que repetir. Inclusive cutucá-lo de novo. ─ Ei! – exclamo.

Quando ele finalmente me olha, coro inteira.

─ Você é o irmão gêmeo do André, não é? – pergunto, abrindo um sorriso para disfarçar meu nervosismo. Seus cílios são profundos, intensamente negros. Tem uma mancha numa das suas bochechas, um arranhão, acho que ele acabou de se coçar agora a pouco. Isso deixa ele meio doido, mas muito engraçado. E até mesmo sexy. Começo a rir baixinho.

Vejo ele abrindo um sorriso ladeado. Muito, muito sensual, ao me ver rindo.

─ Sou eu sim. – Ele fica calado, alguns segundos, me olhando com esse sorrisinho. ─ Vocês são amigos? – pergunta Armando, de um jeito calmo.

Fico alguns poucos segundos pensando. Amigos? Isto é uma palavra forte. No entanto, uma ótima desculpa para me aproximar de Armando. Assinto, confiantemente.

─ Sim, somos! – sorrio.

─ Mm. – ele se gira completamente e apoia os dois braços na minha mesa, me olhando com esses olhos enormes que se submergem nesse cabelo preto, nessa pele branca, formando um conjunto muito chamativo. Excitante, é. Sexy, o cara…

─ E você é nova aqui, não? É seu primeiro ano, não é? Eu estou repetindo. – Ele faz as primeiras perguntas primeiro com segurança. E logo ri ao confessar que é repetente.

─ Sim, sou. – Respondo, ainda meio vermelha. ─ Ah, mas não se preocupe por haver repetido. O lado bom é que você já sabe algumas coisas. E é sempre bom ter uma “voz da experiência” por perto. – Digo, amavelmente. Ele não para de olhar meu rosto. E pode que eu esteja alucinando, mas percebi o músculo do seu lábio se movendo um pouco mais para cima; o músculo responsável por esse sorriso pícaro.

─ Claro… Eu sou o experimentado. Mhuhm. – tenho uma leve impressão de que ele está sendo malicioso, e de que, além disso, se diverte me deixando na dúvida. Acabo rindo e desviando o olhar momentaneamente. ─ Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa mesmo. – Dessa vez sinto que ele fala sério. ─ Pode me perguntar. Como já repeti, sei praticamente tudo o que há que fazer para aprovar. – Afirma, erguendo as sobrancelhas. ─ E espero não cair nos mesmos erros do ano passado. – Armando ri descontraido.

─ O que temos que fazer para aprovar? – pergunto, interessada. Já que não tenho materiais, pelo menos essas dicas podem me ajudar a superar o ciclo. Sei que com estudos técnicos já poderia encontrar um trabalho para sair do meu inferno de vida.

─ Pois… Puffffff…. – Ele começa a rir. Parece que ia tentar ser sério e não conseguiu. ─  Dar um beijo grego nos professores. Lamber as botas deles, pagar um bola-gato na diretoria… Essas coisas… – Armando começa a ter uma crise de risos.

Aff, que idiota. Achei que ele ia me ajudar.

─ Agora, sério! – falo, me recompondo.

─ Sério? – ele vai parando de rir aos poucos. Respira controladamente e me olha bem nos olhos, sério. ─ Ok, hm. Sério. – Ele diz, com uma voz firme. É um timbre cálido, assertivo. E sério. ─ Você não pode faltar nenhum dia. Trazer os materiais sempre. E, preferivelmente, e o mais importante de tudo, fazer com que os professores gostem de você.

─ O que você quer dizer com isso? É sério? Ou seja, se eles não forem com a minha cara eu não aprovo? Então como que eu faço para que os professores gostem de mim? – pergunto, atenta.

─ Sim. Digo… – ele para de ser tão sério e abre um sorrisinho. ─ Deixa, eu ia dizer uma coisa irrelevante. – Armando sorri, maliciosamente agora.

─ Bom, agora termina de falar. – Insisto, me aproximando.

─ Achei irrelevante o que eu ia dizer, desnecessário, vendo você. Sabe? Porque com essa carinha de anjo que você tem… E com esse jeitinho bonzinho e amável, eu tenho certeza de que você presta atenção. Tenho certeza de que você é estudiosa e responsável. E de que você se comporta bem, como uma boa garota. – Ele sussurra o último. Pisco algumas vezes, enfeitiçada. Parece haver uma aura de maldade e prazer no que ele está dizendo, e não entendo o porquê.

Como assim… Como uma “boa garota”?

─ Mm… – Murmuro. ─ Você acha mesmo que eu sou boa? – ergo uma sobrancelha, ainda corada. Num entorno onde todos me xingam, qualquer elogio me acaricia.

─ Mhuhm. – Ele me olha, com ternura agora. É como se eu fosse algo muito fofo bem na frente dele. ─ Eu tenho certeza. – Afirma Armando. Fico coibida. ─ Anjinho. – sussurra o moreno, piscando um olho, indo embora com seu amigo. Guardo minhas coisas, com as bochechas queimando.

* * *

O primeiro mês na Escola de Arte foi tranquilo. Eu e Elisa íamos conhecendo várias pessoas legais e interessantes. Eu sou amiga dos gêmeos, Armando e André. O Armando sempre me faz rir durante as aulas, e sempre me ajuda quando eu tenho alguma dúvida sobre desenho. Ele é bem talentoso. Eu achava que ele não ia mais me dar atenção por me achar muito boazinha e ele ser assim todo rebelde. Mas ele realmente cumpriu a sua promessa de me ajudar no que eu precisasse, e vem sendo um grande apoio para mim. O André é o amigo gay que todas sonhamos em ter, sempre disposto a se meter em algum rolo engraçado. E logo está o Casandro, um cara um tanto sarcástico e desagradável, que eu só admiro de longe, por ser parecido com o Jared Leto. E Luíz, seu melhor amigo, e ex-namorado de Elisa. O Luíz vive no mundo dele. Sempre está escrevendo, é tímido, não incomoda ninguém e é muito educado. Às vezes sinto vontade de conversar com ele devido a esse passatempo que temos em comum, mas me dá um pouco de vergonha. E também… Há um certo cara que se chama Daniel que me lembra bastante o Dangy do verão. Mas eles se vestem de jeitos muito diferentes, não podem ser a mesma pessoa. E o Daniel nem sequer me disse oi quando me viu por aqui.

Bom, tentei não transar com várias pessoas esta temporada, mas estou realmente mudando de ideia. Preciso de um pouco de aventura… E talvez possa ser com algum dos meninos. Menos com o Armando… Que logo a nossa amizade se fode e perco a pessoa que me ajuda com os estudos. E como eu disse, agora mesmo o mais importante para mim é aprovar tudo e conseguir um emprego. Ai, ai. Sim, ele é lindo. Mas também tenho que pensar com a cabeça, não só com a parte de baixo.

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